11 fevereiro, 2008

Cidade Maravilhosa

Calor. Por entre a noite, vi crianças a jogar à bola, na face da estrada. As casas, de tijolos e pouco - muito pouco - mais.

Fez-se dia. Máquina fotográfica, carteira e óculos de sol na mala, fui para o carro. Vidros escuros, portas trancadas. Amendoins assados, balas, refrigerantes, dignidade: tudo se vende, basta haver um sinal vermelho que faça parar o trânsito. Abanar a cabeça ou fingir-me distraída. Metralhadoras em punho, policiais a menos para a quantidade de gente.

Os monumentos grandiosos para povo tão pouco preocupado. Anúncios pintados à mão em qualquer muro da cidade, belas cores, muito bons graffitis, para tanta tinta mal gasta em riscos ilegíveis em qualquer fábrica abandonada.

Muita coisa abandonada. Grandes edifícios que não deram em nada, só prejuízo. Abandonados no meio da cidade, cinzentos.

A alma, dão em troca de meia dúzia de reais. Fazem o pino, vendem prémios, prometem financiamentos para tudo (e mais alguma coisa) para gastar o que conseguem numa garrafa de cachaça e duas cervejas.

A natureza, rica demais para tanta gente que não quer saber.
No centro, a vegetação que por pouco ia sendo levada por mais umas barracas dos que vieram na falsa esperança de sucesso. Árvores com muitos metros isolam os ruídos da cidade. Acaba-se o barulho, o povo, o trânsito, as forças policiais. Só a natureza: pássaros, flores, palmeiras e verde, muito verde que fazem esquecer o cinzento da cidade.

Com trinta metros e muitas toneladas, abre os braços de orgulho sobre a cidade, imponente, o Redentor.

Pão de Açúcar, Rio de Janeiro
Brasil 2007


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